Cidadão do mundo


   Japão. Canadá. Inglaterra. Espanha. Singapura. Dinamarca. Austrália. Chipre. Malásia. Todos estes países constituem, de uma forma ou de outra, a história de vida de Issey Nakajima-Farran, uma das pessoas mais interessantes e com uma das experiências de vida mais enriquecedoras que já entrei em contacto durante toda a vida.

   Conhecer este futebolista, filho de mãe japonesa e pai inglês-canadiano, é uma das experiências mais fantásticas que um adepto do desporto jamais poderá ter. Não só pela sua humildade, sinceridade e frontalidade face a qualquer tipo de temática, mas também pela sua história de vida incrível e percurso profissional ao longo dos anos que já o levou a todos os continentes do mundo, exceto África. Com uma interessantíssima mescla étnica, este foi um atleta que já enfrentou todo o tipo de problemas possíveis. Neste momento é um ídolo no futebol da Malásia, onde é o principal embaixador do Terengganu por todo o mundo.

   De vítima de racismo no futebol jovem no Japão a campeão australiano ou a uma das principais referências do futebol dinamarquês de 2007 a 2009, Issey não joga simplesmente porque precisa do dinheiro para sobreviver e sustentar a sua família. Fá-lo, também, porque tem a necessidade de conhecer novos países e, com isso, o seu futebol e cultura. E desde pequeno que viaja: aos 3 anos mudou-se do Canadá (onde nasceu) para o Japão. E foi aí que ficou até aos 16 anos, quando os pais abriram um restaurante em Inglaterra.

   Um autêntico cidadão do mundo, Issey Nakajima-Farran já sabe o que vai fazer depois de pendurar as botas: concentrar-se, de forma mais consistente, na sua arte. Além de futebolista, Issey é pintor e tem no seu portfólio algumas obras verdadeiramente estonteantes, não só sobre futebol mas como também de outros temas. E, futebolisticamente, não engana. Tal como demonstra na sua arte, o canadiano é criativo, ousado e imprevisível com a bola nos pés.

Torre de ataque


   Em termos futebolísticos não é de todo fácil elogiar Marc Janko. Não é um jogador propriamente rápido nem é principalmente dotado pela sua agilidade. Apesar da sua estatura e respeitável portento físico, não é também o melhor jogador do mundo a ganhar bolas aéreas ou a fazer do corpo uma arma contra os defesas. Embora o faça, o goleador austríaco vai triunfando no futebol por uma característica única que muitos adorariam possuir: a sua grande capacidade de finalização.

   O antigo avançado do FC Porto é o que, nos termos de futebol, se considera um poacher. Cada vez menos no mundo do desporto rei tendo em conta a constante preocupação dos pontas-de-lança nas movimentações ofensivas nesse momento do jogo, Janko não pode ser, de alguma forma, considerado um jogador móvel. Além das deambulações que vai fazendo na área, esperando o colega e mantendo-se em posição regular, não há muitas áreas que o jogador percorra durante uma partida. Mas a verdade é que, por onde quer que passe, a sua equipa só necessita dele num lugar: na grande área. É lá que faz o que melhor sabe: marcar golos.

   Com registos assinaláveis ao longo dos anos, o jogador nascido em Viena leva uns impressionantes 157 golos apontados em 290 partidas oficiais pelos clubes, contando com mais 25 em 50 jogos na seleção nacional da Áustria. É raro nos dias de hoje - e tendo ainda em conta que está inserido em campos física e taticamente exigentes - contar com um avançado que marque 1 golo em cada 2 jogos, quase por todos os lados por onde passe. Atualmente com 13 golos em 14 partidas na Liga Suíça, onde é a referência atacante no campeão em título Basileia, vai marcando mais um capítulo de sucesso numa carreira também ela de imensos triunfos tendo em conta os clubes onde passou, tal como dizem os seus 6 títulos e outras 5 honras individuais, sendo o melhor marcador do campeonato austríaco na época 2008/2009, onde apontou uns estonteantes 39 golos em 34 jogos. Inacreditável.

   Futebolisticamente falando é fácil classificar Janko de "tosco". Não é um jogador rápido nem ágil, parecendo muitas vezes lento nas suas movimentações e receoso em sair da sua zona de conforto. A verdade é que não precisa de o fazer, como dizem os seus maravilhosos registos goleadores. Com praticamente 2 metros de altura, o internacional pela Áustria é, sem dúvida alguma, um dos maiores goleadores de elevado porte no futebol europeu neste momento. Os números são esclarecedores.

American Dream


   Se tivesse partido o mesmo pé por 3 vezes em 2 anos desistia de tudo ou continuava a perseguir os seus sonhos no mundo do futebol?

   De 2006 a 2008, enquanto estudava no Colégio de West Anglia, o inglês Dom Dwyer partiu o pé direito por 3 ocasiões. Para os médicos, quaisquer aspirações que tivesse de perseguir uma carreira profissional no desporto rei estavam postas por terra. As lesões eram demasiadas e demasiado frequentes para, sequer, tentar singrar no mundo futebolístico. E se tivesse seguido o conselho dos especialistas de saúde, hoje podia ser ou um advogado ou estar simplesmente desempregado e desistido de ter quaisquer aspirações na vida. Mas, não sendo advogado, é um dos goleadores mais letais da Major League Soccer, principal campeonato de futebol nos Estados Unidos.

   Não se conformando com a possibilidade da sua carreira ter terminado ainda antes de começar, o britânico continuou a perseguir o seu sonho que, através do observador Joe McLaughlin, o levou para o Texas, nos EUA, onde representou a equipa universitária do Tyler Junior College. Aí, marcou 37 golos numa temporada e acabou por vencer dois campeonatos nacionais universitários. Em 2011 mudava-se para a Florida, onde de forma breve representou os South Florida Bulls. Esse seria o clube que lhe abriria portas que, após tantas lesões e tantos desgostos, jamais imaginaria ser abertas.

   O momento determinante da sua carreira chegaria quando, em 2012, o Sporting Kansas City, da MLS, iria adquiria os seus serviços. Com apenas 17 partidas disputadas e 2 golos apontados no campeonato, o inglês seria emprestado ao Orlando City de uma divisão inferior em 2013 para ganhar rodagem. Lá consumou o ponto de viragem da sua carreira, onde libertou o goleador dentro de si e apontou uns inacreditáveis 22 golos em 15 jogos em todas as competições. Sem recursos financeiros para manter o jogador, Dwyer regressaria aos altos voos do futebol norte-americano, integrando novamente o plantel do Sporting Kansas City na temporada de 2014. E aí marcaria a época mais produtiva da carreira: além de ser utilizado em 40 jogos no decorrer do ano, marcaria uns impressionantes 24 golos.

   O britânico recebeu o cartão verde em 2012, significando que em termos de plantel seria designado como um jogador doméstico, ou seja, norte-americano. Em janeiro de 2015 casar-se-ia com a futebolista norte-americana Sydney Leroux, esperando agora o seu primeiro filho no próximo mês de setembro. Dwyer vive, sem dúvida alguma, o sonho americano.

48


   Com um percurso absolutamente fantástico no futebol português nos últimos meses, Jorge Simão é uma das figuras mais competentes na Liga NOS. Tendo iniciado a época no Mafra, completou a maior parte da temporada na equipa que eventualmente iria subir à Segunda Liga, conseguindo na mesma temporada a impressionante proeza de levar o Belenenses à pré-eliminatória da Liga Europa onde, sob o comando de Sá Pinto, eventualmente iria garantir a presença histórica na fase de grupos. Com um rasto de sucesso por onde quer que passasse, a presente temporada levou Jorge Simão à capital do móvel onde tem o desafio mais aliciante da carreira, determinado por um número que motiva todo uma estrutura.

   Ao contrário da maioria dos treinadores, que transmitem constantemente a mensagem de que a sua equipa vai encarar "jogo a jogo", o técnico do Paços de Ferreira definiu uma meta não só ambiciosa, como extremamente inteligente. Na temporada passada, Paulo Fonseca terminou a temporada com os castores em 8º lugar com 47 pontos, a apenas 1 dos postos europeus. O objetivo para os pacenses é apenas 1: fazer melhor. Definida a meta dos 48 pontos, é para isso que trabalha diariamente.

   Tendo perdido elementos relevantes no plantel como Paolo Hurtado ou Michaël Seri, agora titularíssimo na Ligue 1 pelo surpreendente Nice, Jorge Simão teve que colmatar as saídas indicadas e formar um plantel competente, balanceando adequadamente juventude e experiência. E esse aspeto foi um dos primeiros em que Jorge Simão mostrou toda a sua competência, montando uma formação extremamente equilibrada em todos os setores.

   Embora já tenha rumado ao Sporting de Braga para a segunda metade da temporada, Marafona acabou por ser preponderante para o sucesso do Paços, contribuindo ativamente para o facto dos castores terem a 5ª defesa menos batida do campeonato português. Mais à frente, no setor defensivo, uma das surpresas da temporada, não só na equipa que veste amarelo e verde, como também em toda a Liga NOS: oriundo do Mafra, uma casa que Jorge Simão bem conhece, Marco Baixinho surgiu como um pilar no eixo central da defesa. O técnico português confiou num dos jogadores que mais garantias que lhe na temporada passada, enquanto ainda orientava o Mafra no então Campeonato Nacional de Séniores. Tal como tem feito Quim Machado no Vitória, o Paços mostra que não tem medo de apostar em atletas provenientes de escalões inferiores, sendo que estes são igualmente capazes de ter sucesso quando inseridos no contexto tático correto.

   Além de Pelé, o rochedo no meio-campo defensivo dos castores que também tem uma importante função como construtor de jogo, Christian tem sido uma das boas peças neste xadrez dos castores. Paciente à espera de uma oportunidade, o brasileiro ex-Nacional da Madeira tem funcionado como o 12º jogador da equipa, entrando em quase os jogos em que alinha de início como suplente.

   Dando uma enorme confiança a uma das revelações da segunda metade da última temporada, Jorge Simão tem contado com um ativo Diogo Jota para o papel de desequilibrador da equipa, algo que tem funcionado a seu favor. Confirmando-se a permanência de Bruno Moreira no clube nortenho até ao final da época, o melhor marcador português do campeonato e um goleador imprescindível, os 48 pontos são uma meta realista, possível e muito alcançável.

Pirlo da Sardenha


          Dentro dos campeonatos de topo no futebol europeu, a Itália é um dos poucos que se pode orgulhar de ter vários jogadores de um só clube ou futebolistas que, passando por outros clubes, tornaram-se em ícones numa determinada instituição. E aposto que, rapidamente, consegue pensar numa mão cheia de nomes.

          À cabeça, falando apenas de jogadores que atuam, atuaram ou penduraram as botas no presente milénio, vêm logo os casos do eterno Paolo Maldini (31 anos no Milan, se considerarmos o seu percurso nas camadas jovens do clube, caso contrário são 24), o goleador Alessandro Del Piero (19 anos na Juventus, atual campeã italiana), o gladiador Francesco Totti e o guerreiro Daniele De Rossi na Roma (com um total combinado estonteante de 43 anos no clube, 27 para o primeiro e 16 para De Rossi) ou o mítico Gianluigi Buffon que, apesar de também ser um ícone na história do Parma, defende as redes da Juventus desde 2001. Todas essas personalidades marcaram ou vão marcando a essência do seu clube, sendo todos eles idolatrados como verdadeiros heróis nas casas onde foram felizes.

          Longe de Turim, Roma ou Milão, na graciosa ilha que é Sardenha, o Cagliari Calcio, atualmente a lutar para a Serie A, teve um desses heróis nos seus quadros. Durante 16 anos, de 1999 a 2015, um médio que detém algumas parecenças físicas com Andrea Pirlo foi-se gradualmente tornando uma referência na história da formação insular. Daniele Conti vestiu a camisola do Cagliari por 434 vezes, contabilizando apenas partidas disputadas no campeonato.

          Não sendo um dos nomes mais sonantes do futebol italiano desde que soou o novo milénio, Conti acabou por passar ao lado da atenção da imprensa e da generalidade dos adeptos transalpinos que, muito possivelmente, não (re)conheciam o seu caso de longevidade no clube da Sardenha. No dia que fora questionado sobre o assunto, um dos únicos desgostos da carreira de Conti será nunca ter atuado pela seleção principal de Itália, tendo apenas uma partida realizada pelos sub-21 da squadrazzurra durante a longínqua temporada de 1998/1999.

          Dotado de uma capacidade de passe, visão e leitura de jogo invulgares, Conti foi o mentor para as novas gerações de jogadores que iam desabrochando no Cagliari. De forma ingrata, o destino quis que a sua última temporada pelo clube insular ditasse a descida de divisão da equipa para a Série B italiana. Em lágrimas, no Saint Elia, o fantástico médio despediu-se de uma casa onde, apesar dos resultados não serem sempre os mesmos, foi sempre feliz.

          Mas Daniele não foi o único membro da sua família a marcar a história de um clube. O seu pai, Bruno, é considerado uma das grandes figuras da história da Roma, tendo representando o clube da capital italiana de 1973 a 1991. Com 47 internacionalizações pela seleção, foi campeão mundial em 1982. Embora sem títulos, ao contrário do seu pai e o homem que o levou para o mundo do futebol, Daniele nunca deixou de ser feliz. E assim marcou a história de um clube que luta para ser, novamente, grande.
          

O bom filho... à Coreia torna


          144 golos em 239 jogos. É o suficiente para captar a sua atenção?

          Quando, em 2006, Dejan Damjanovic apontou 7 golos em 8 jogos no campeonato da Arábia Saudita, ao serviço do Al-Ahli, o futebol asiático tomou nota deste goleador montenegrino que até então tinha, no máximo, uma carreira modesta no futebol europeu com alguns bons momentos no futebol sérvio. Não foi porém até 2007 que o futebol coreano ficaria marcado como a utopia futebolista de Damjanovic. 20 golos em 40 jogos pelo Incheon United em 2007 - 14 deles no campeonato, cerca de metade do total da equipa na K-League - abririam portas para uma das aventuras mais bem sucedidas de um jogador europeu na Ásia.

          Com o 3º pior ataque do campeonato coreano na época de 2007, o Seoul FC necessitava desesperadamente de um goleador que pudesse colmatar a sua perdularidade e ineficácia ofensiva. A solução passou pela aquisição de um jogador que é, agora, um dos mais adorados da história do clube. Com 29 golos nas suas primeiras duas épocas pela formação de Seoul no campeonato, 2008 e 2009, as perspetivas para o futuro eram igualmente brilhantes. Por muitas expectativas que tivesse, o 2010 de Dejan Damjanovic foi além do imaginável.

          Além de vencer o campeonato e ter marcado 13 golos na mesma competição em 2010, venceu também a Taça da Liga da Coreia do Sul, pelo que os prémios individuais surgiriam normalmente: além de se sagrar o melhor marcador da Taça da Liga e membro do melhor 11 do campeonato, os restantes jogadores do campeonato elegeram-no como o mais valioso do campeonato nesse ano. E a situação só iria melhorar. Seguiram-se 74 - isso mesmo - golos nas próximas 3 temporadas do campeonato, com 91 em todas as competições. Quem se pode gabar de apontar, pelo menos, 28 golos em 3 épocas consecutivas? Tendo vencido novamente o campeonato em 2012, só faltou mesmo vencer a final da Liga dos Campeões asiática para dizer adeus ao clube de forma ainda mais heróica.

          144 golos em 239 jogos pelos coreanos fizeram do montenegrino uma das personalidades mais veneradas da história do clube que rumou à China em 2014 para representar o Jiangsu Sainty, numa experiência que acabou por não corresponder às suas expectativas. Ainda assim, 5 golos em 11 jogos acabam por ser um registo aceitável. Seguiu-se, ainda na China, o Beijing Guoan, outrora orientado pelo português Jaime Pacheco entre o final de 2010 e 2012. Mais uma vez com números sensacionais, foram 29 golos em 56 partidas divididas entre as épocas de 2014 e 2015. Mas não há nada como estar em casa, não é verdade?

          Numa história digna de conto de fadas, Damjanovic foi anunciado como reforço do FC Seoul no presente mês de janeiro, voltando a uma casa onde foi muito feliz mais de 2 anos depois. A caminho dos 35 anos, não é a idade que lhe tirará as suas melhores características: a humildade e a simpatia fora do campo e a sua habilidade quase sobrenatural de marcar golos dentro dele. O herói voltou à casa onde viu os seus filhos nascerem e onde se sente à vontade. E o futebol agradece.

A virtude está em Peixoto


          "A virtude está no meio" é um termo tradicionalmente aplicado e no futebol não é diferente. De facto, futebolisticamente falando, o meio-campo acaba por ser o setor mais determinante durante os 90 minutos, fazendo o delicado equilíbrio entre a defesa e o ataque e as respetivas compensações conforme as circunstâncias do jogo. E dentro do próprio miolo há uma posição que requer um foco especial: a do médio defensivo, o 6. É sobretudo ele que reparte as suas tarefas entre os momentos do jogo - ofensivo e defensivo. Não é de todo uma função agradável estar, ao mesmo tempo, atento a quem está à sua frente e, ao mesmo tempo, atrás. Além dos aspetos físicos e técnicos, o aspeto mental do trinco terá que ser de total concentração e consciencialização do que está à sua volta para uma leitura de jogo eficiente e assertiva. 

          Aí, na posição 6, está a virtude do meio-campo: é frequentemente o primeiro bloco de construção ofensiva, mas também o primeiro a recuar e a proporcionar o equilíbrio necessário no momento oposto do jogo. Na ilha de São Miguel, nos Açores, a virtude do miolo do Clube Operário Desportivo está em João Peixoto. Reunindo todas as condições necessárias para ocupar uma das posições mais importantes no terreno de jogo, o médio nascido no Montijo definiu-se nas últimas temporadas não só como a peça determinante do clube açoriano, mas como também uma das referências de maior relevo no agora denominado Campeonato de Portugal. A caminho dos 33 anos, a idade é só um número. Ainda mais quando se joga com a arma mais poderosa que um futebolista pode ter: a inteligência.

          Eficiente em qualquer estilo de jogo, seja no futebol apoiado ou numa exposição de jogo direto e mais objetivo, a sua principal qualidade tem de ser o passe: curto, longo, a romper, a abrir os extremos... é irrelevante. Qualquer bola que sai dos pés de João Peixoto sai, por norma, a sorrir. Com uma técnica imperial, a classe e consistência com que circula a bola é de admirar ou mesmo invejar a maior parte dos médios portugueses dos campeonatos profissionais, independentemente de onde jogarem. O facto de atuar no 3º escalão do futebol português não tira crédito à sua qualidade que é, apenas, menos conhecida ou divulgada no panorama do nosso futebol - por alguma razão existe o Futebol 180. Há que ter em conta o exemplo do Vitória FC: a equipa de Quim Machado vai mostrando sucessivamente que uma equipa de 1ª divisão não é mais débil por ter nos seus quadros um considerável número de jogadores provenientes deste escalão. E Peixoto é um desses jogadores: atuar num escalão inferior não significa, de todo, que não se tenha habilidades suficientes para brilhar ao mais alto nível.

          No Operário desde 2011, João já considera os Açores como a sua casa. E, por outro lado, os adeptos já o consideram um jogador da casa - e não é difícil perceber porquê. Aliando uma qualidade técnica absolutamente incrível a uma igualmente notável capacidade de leitura de jogo e liderança, o médio de 32 anos é o tipo de jogador que qualquer treinador receberia de braços abertos no seu balneário. Juntando a tudo isso, a sua capacidade de finalização não é menos impressionante: 14 golos em 35 jogos no Campeonato Nacional de Séniores 2014/2015 para um médio correspondem a uma marca impressionante, ainda mais quando nesse lote de golos se incluem livres e chapéus do meio-campo que naturalmente correram o país.

          No papel atua a médio defensivo, mas a natureza técnica e compreensão do jogo que demonstra acabam por lhe ser muito úteis, subindo de forma relativamente fácil no terreno quando a circunstância lhe é favorável. Se parece não haver espaço, cria-o. Tão simples quanto isso. Analisando todas estas características, é elementar concluir que João Peixoto é o perfeito regista ou playmaker. Não só passa a bola de forma eficiente, como também cria oportunidades de golo a fazê-lo. E, geralmente, fá-lo com certeza. A sua percentagem de passes bem sucedidos é elevadíssima, tendo em conta a média do campeonato, ainda com o acréscimo de ter uma equipa à sua volta que entende as suas movimentações e pensamentos - denotando o trabalho de André Branquinho no clube lagoense.

          Há uma grande hipótese de, após ler todas as características de João Peixoto, ter pensado em Andrea Pirlo. E se assim o fez, está corretíssimo. No futebol português há poucos futebolistas cujas características se assemelham tanto ao melhor regista da história do futebol italiano e um dos melhores da história futebol mundial.