Pirlo da Sardenha

19:26 Luís Barreira 0 Comments


          Dentro dos campeonatos de topo no futebol europeu, a Itália é um dos poucos que se pode orgulhar de ter vários jogadores de um só clube ou futebolistas que, passando por outros clubes, tornaram-se em ícones numa determinada instituição. E aposto que, rapidamente, consegue pensar numa mão cheia de nomes.

          À cabeça, falando apenas de jogadores que atuam, atuaram ou penduraram as botas no presente milénio, vêm logo os casos do eterno Paolo Maldini (31 anos no Milan, se considerarmos o seu percurso nas camadas jovens do clube, caso contrário são 24), o goleador Alessandro Del Piero (19 anos na Juventus, atual campeã italiana), o gladiador Francesco Totti e o guerreiro Daniele De Rossi na Roma (com um total combinado estonteante de 43 anos no clube, 27 para o primeiro e 16 para De Rossi) ou o mítico Gianluigi Buffon que, apesar de também ser um ícone na história do Parma, defende as redes da Juventus desde 2001. Todas essas personalidades marcaram ou vão marcando a essência do seu clube, sendo todos eles idolatrados como verdadeiros heróis nas casas onde foram felizes.

          Longe de Turim, Roma ou Milão, na graciosa ilha que é Sardenha, o Cagliari Calcio, atualmente a lutar para a Serie A, teve um desses heróis nos seus quadros. Durante 16 anos, de 1999 a 2015, um médio que detém algumas parecenças físicas com Andrea Pirlo foi-se gradualmente tornando uma referência na história da formação insular. Daniele Conti vestiu a camisola do Cagliari por 434 vezes, contabilizando apenas partidas disputadas no campeonato.

          Não sendo um dos nomes mais sonantes do futebol italiano desde que soou o novo milénio, Conti acabou por passar ao lado da atenção da imprensa e da generalidade dos adeptos transalpinos que, muito possivelmente, não (re)conheciam o seu caso de longevidade no clube da Sardenha. No dia que fora questionado sobre o assunto, um dos únicos desgostos da carreira de Conti será nunca ter atuado pela seleção principal de Itália, tendo apenas uma partida realizada pelos sub-21 da squadrazzurra durante a longínqua temporada de 1998/1999.

          Dotado de uma capacidade de passe, visão e leitura de jogo invulgares, Conti foi o mentor para as novas gerações de jogadores que iam desabrochando no Cagliari. De forma ingrata, o destino quis que a sua última temporada pelo clube insular ditasse a descida de divisão da equipa para a Série B italiana. Em lágrimas, no Saint Elia, o fantástico médio despediu-se de uma casa onde, apesar dos resultados não serem sempre os mesmos, foi sempre feliz.

          Mas Daniele não foi o único membro da sua família a marcar a história de um clube. O seu pai, Bruno, é considerado uma das grandes figuras da história da Roma, tendo representando o clube da capital italiana de 1973 a 1991. Com 47 internacionalizações pela seleção, foi campeão mundial em 1982. Embora sem títulos, ao contrário do seu pai e o homem que o levou para o mundo do futebol, Daniele nunca deixou de ser feliz. E assim marcou a história de um clube que luta para ser, novamente, grande.
          

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