A virtude está em Peixoto

19:49 Luís Barreira 0 Comments


          "A virtude está no meio" é um termo tradicionalmente aplicado e no futebol não é diferente. De facto, futebolisticamente falando, o meio-campo acaba por ser o setor mais determinante durante os 90 minutos, fazendo o delicado equilíbrio entre a defesa e o ataque e as respetivas compensações conforme as circunstâncias do jogo. E dentro do próprio miolo há uma posição que requer um foco especial: a do médio defensivo, o 6. É sobretudo ele que reparte as suas tarefas entre os momentos do jogo - ofensivo e defensivo. Não é de todo uma função agradável estar, ao mesmo tempo, atento a quem está à sua frente e, ao mesmo tempo, atrás. Além dos aspetos físicos e técnicos, o aspeto mental do trinco terá que ser de total concentração e consciencialização do que está à sua volta para uma leitura de jogo eficiente e assertiva. 

          Aí, na posição 6, está a virtude do meio-campo: é frequentemente o primeiro bloco de construção ofensiva, mas também o primeiro a recuar e a proporcionar o equilíbrio necessário no momento oposto do jogo. Na ilha de São Miguel, nos Açores, a virtude do miolo do Clube Operário Desportivo está em João Peixoto. Reunindo todas as condições necessárias para ocupar uma das posições mais importantes no terreno de jogo, o médio nascido no Montijo definiu-se nas últimas temporadas não só como a peça determinante do clube açoriano, mas como também uma das referências de maior relevo no agora denominado Campeonato de Portugal. A caminho dos 33 anos, a idade é só um número. Ainda mais quando se joga com a arma mais poderosa que um futebolista pode ter: a inteligência.

          Eficiente em qualquer estilo de jogo, seja no futebol apoiado ou numa exposição de jogo direto e mais objetivo, a sua principal qualidade tem de ser o passe: curto, longo, a romper, a abrir os extremos... é irrelevante. Qualquer bola que sai dos pés de João Peixoto sai, por norma, a sorrir. Com uma técnica imperial, a classe e consistência com que circula a bola é de admirar ou mesmo invejar a maior parte dos médios portugueses dos campeonatos profissionais, independentemente de onde jogarem. O facto de atuar no 3º escalão do futebol português não tira crédito à sua qualidade que é, apenas, menos conhecida ou divulgada no panorama do nosso futebol - por alguma razão existe o Futebol 180. Há que ter em conta o exemplo do Vitória FC: a equipa de Quim Machado vai mostrando sucessivamente que uma equipa de 1ª divisão não é mais débil por ter nos seus quadros um considerável número de jogadores provenientes deste escalão. E Peixoto é um desses jogadores: atuar num escalão inferior não significa, de todo, que não se tenha habilidades suficientes para brilhar ao mais alto nível.

          No Operário desde 2011, João já considera os Açores como a sua casa. E, por outro lado, os adeptos já o consideram um jogador da casa - e não é difícil perceber porquê. Aliando uma qualidade técnica absolutamente incrível a uma igualmente notável capacidade de leitura de jogo e liderança, o médio de 32 anos é o tipo de jogador que qualquer treinador receberia de braços abertos no seu balneário. Juntando a tudo isso, a sua capacidade de finalização não é menos impressionante: 14 golos em 35 jogos no Campeonato Nacional de Séniores 2014/2015 para um médio correspondem a uma marca impressionante, ainda mais quando nesse lote de golos se incluem livres e chapéus do meio-campo que naturalmente correram o país.

          No papel atua a médio defensivo, mas a natureza técnica e compreensão do jogo que demonstra acabam por lhe ser muito úteis, subindo de forma relativamente fácil no terreno quando a circunstância lhe é favorável. Se parece não haver espaço, cria-o. Tão simples quanto isso. Analisando todas estas características, é elementar concluir que João Peixoto é o perfeito regista ou playmaker. Não só passa a bola de forma eficiente, como também cria oportunidades de golo a fazê-lo. E, geralmente, fá-lo com certeza. A sua percentagem de passes bem sucedidos é elevadíssima, tendo em conta a média do campeonato, ainda com o acréscimo de ter uma equipa à sua volta que entende as suas movimentações e pensamentos - denotando o trabalho de André Branquinho no clube lagoense.

          Há uma grande hipótese de, após ler todas as características de João Peixoto, ter pensado em Andrea Pirlo. E se assim o fez, está corretíssimo. No futebol português há poucos futebolistas cujas características se assemelham tanto ao melhor regista da história do futebol italiano e um dos melhores da história futebol mundial.

0 comentários: